MEU ROTEIRO POR DIAMANTINA — MG
Maior centro de extração de diamantes do mundo no século XVIII, Diamantina é uma das mais importantes cidades históricas de Minas Gerais e, na minha opinião, a mais charmosinha. Foi a última cidade que eu visitei na viagem (dezembro/2018) e também a minha preferida! A cidade é vibrante, aconchegante e cheia de personalidade.
Passei apenas uma noite por lá mas foi o suficiente para ver os principais pontos turísticos da cidade e me apaixonar! Pra quem gosta de história, é um prato cheio. Além disso, a cidade é bem pequena, o que possibilita fazer tudo a pé e economizar tempo e dinheiro com transporte.
Enfim, vamos aos lugares visitados, que fizeram a minha diária na cidade ser tão enriquecedora!
O QUE VISITAR
Mercado Velho
O local onde antigamente os tropeiros paravam para descansar e alimentar os animais — note que na frente do mercado há estacas, onde os animais eram amarrados — com o tempo foi virando um ponto de comércio de mantimentos. Por isso, hoje é chamado de Mercado Velho e é praticamente o centro de eventos da cidade. Quando estive lá, nas sextas e sábados a noite havia feirinha de comidas locais e artesanatos com música ao vivo. Comi uma super tijela de caldo de abóbora com couve mineira por R$10,00.
No domingo, tinha feirinha de frutas, verduras e mais comida! Além de conhecer vários vegetais típicos do cerrado que nunca tinha visto — como o pequi! — , também tinha pasteizinhos por R$0,50 (SIM!), empadinhas por R$1,00 e muito mais! Foi maravilhoso e recomendo demais a visita lá para quem tiver a oportunidade.
Repare que o telhado do mercado é feito com telhas irregulares, como várias construções do período colonial. Isso porque as telhas eram feitas nas coxas das escravas e escravos, que variavam o tamanho, vindo daí a expressão “feito nas coxas” para se referir a algo que não foi feito muito bem. Na verdade, era um processo bem sofrido, pois moldava-se o barro nas coxas dos escravos e escravas e, depois de esperar no sol para secar, quando a telha estivesse quase seca ela era puxada e com ela também saía pele, causando bastante dor.
Casa da Glória
Em 1770, Josefa Maria da Glória constrói uma casa no centro de Diamantina para ser a residência de sua família e de seus escravos. Posteriormente, porém, decide doar o prédio para o bispo da cidade, que por sua vez doa para as irmãs Vicentinas de Paula, as quais viviam em clausura.
Mais tarde, no século XIX, o Coronel Rodrigo de Freitas constrói, no outro lado da rua, um prédio para ser alugado. Acontece que quem alugou o local foram prostitutas, ou seja, fazendo assim com que um convento e um prostíbulo ficassem lado a lado. Incomodadas com a situação, as freiras reuniram dinheiro e compraram o prédio do outro lado da rua. Por causa dos votos de clausura, porém, não podiam chegar até lá. Para resolver isso, então, mandam construir um passadiço, inspirado na Ponte dos Suspiros de Veneza, para que pudessem transitar entre as duas construções sem serem vistas. O chamado Passadiço da Glória é hoje um dos cartões postais de Diamantina!
As irmãs abrigavam e educavam, inicialmente, as meninas órfãs (apenas de pai, pois as crianças sem mãe não eram consideradas órfãs!) da cidade. Com o tempo, meninas da elite também começaram a estudar lá, por causa da qualidade de ensino proporcionado pelas freiras, mas apenas as órfãs trabalhavam. Havia uma rígida hierarquia entre elas: uma órfã não podia sequer trocar olhares com uma pensionista (como eram chamadas as meninas ricas), muito menos conversar!
Lá as meninas aprendiam a ser “boas esposas”, isto é: aprendiam a lavar, cozinhar, limpar e falar apenas quando fosse necessário. O local chegou a abrigar cerca de 500 meninas e funcionou assim até que em 1979 as freiras decidiram vender a casa para a UFMG, que transformou no atual instituto de geologia. A visita é gratuita.
Casa de Juscelino
Você sabia que Juscelino Kubitschek, que marcou a história brasileira pela transferência da capital para Brasília, nasceu em Diamantina? Hoje a casa em que ele viveu lá virou museu sobre a sua história pessoal, não política, e a cidade nutre profundo orgulho dele!
Juscelino nasceu em 1902, filho de descendentes de portugueses com tchecos. Seu pai, bohemio, não guardava recurso nenhum e, quando morre em 1905 de tuberculose, deixa muitas dívidas para a família. Até então moravam em uma casa melhor, mas com o acontecido tiveram que se mudar para esta casa que hoje é o museu. O aluguel era pago pela maçonaria, já que seu falecido pai era integrante dela.
Em 1913, a irmã de Juscelino é enviada para estudar em regime fechado na Casa da Glória — sobre a qual falamos ali em cima — , já que era órfã de pai, enquanto ele inicia os estudos no seminário da cidade. Autodidata e leitor voraz, mesmo antes de entrar no seminário já estudava muito, principalmente por influência de sua mãe Júlia, que era professora.
“Comecei a ler, febrilmente. Em poucas horas, devorava qualquer livro que me caísse nas mãos. Minha curiosidade se ampiava cada vez mais, e fui descobrindo, aos poucos, o universo maravilhoso que se escondia sob as letras de forma.” — JK
Muito pobre quando criança, Juscelino calçou um sapato pela primeira vez aos 12 anos, quando foi para o seminário. Isso porque naquela época não se fabricavam sapatos no Brasil, o que os tornava muito caros aqui e, por consequência, indicadores de riqueza ou pobreza. Dizem que até quando era presidente, muitas vezes costumava atender pessoas descalço, pois dizia que era assim que tinha se acostumado a andar.
Apesar das dificuldades, Juscelino termina seus estudos no seminário, passa em um concurso para o cargo de telégrafo em Belo Horizonte e, posteriormente, inicia o curso de medicina na UFMG. Como médico, participa do front de batalha na guerra café com leite, em 1932. Lá, os militares percebem seu carisma e o introduzem na política, onde Juscelino começa uma carreira que marcou o Brasil. Foi prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas Gerais, deputado por Goiás e, por fim, presidente da república.
Quando faleceu, aos 74 anos, seu enterro foi o maior protesto a céu aberto já registrado no mundo inteiro! Seu corpo passou por cada uma das casas de Brasília. 3 dias antes de sua morte, Juscelino disse que seu sonho era comprar a pequena casa na qual morou em Diamantina e transformá-la em museu sobre sua família, não sua política. Seu Serafim, amigo ainda vivo de JK, realizou seu sonho!
A entrada na casa custa R$10,00 e gostei muito de conhecer. Apesar de Juscelino ter sido um presidente polêmico, aprendi muito sobre sua história pessoal no museu e entendi um pouco do porquê os diamantinos se orgulham tanto de sua figura.
Casa de Chica da Silva
Filha de pai português e mãe africana, a chamada Chica da Silva foi uma escrava, posteriormente alforriada, que marcou muito a história de Diamantina! Sua história é mais ou menos assim…
Aos 15 anos foi vendida para um médico, chamado Simão Pires Sardinha, homem intelectual e tranquilo de lidar. Apesar de ter uma esposa, Sardinha tinha também 3 escravas sexuais — entre as quais Chica — , com a ciência de todos. Com ele, Chica tem um filho, que recebe o nome de Simão Filho Sardinha e logo ao nascer recebe a carta de alforria por ser homem, mas se mantém cativo junto com a mãe. Importante lembrar que, com a Lei do Ventre Livre, apenas os homens ganhavam a alforria automaticamente. Quanto às mulheres, no entanto, o barão é quem decidia se elas iriam ser livres ou nao.
Enquanto isso, havia em Portugal um homem muito rico chamado João Fernandes de Oliveira, que só não era mais rico que o próprio rei do país. Eis que o Arraial do Tijuco (antigo nome de Diamantina) se torna o segundo lugar no mundo onde foi encontrado diamante, e por isso o rei de Portugal precisa de um homem de confiança para enviar à cidade com a função de contratador de diamantes, o maior título que se poderia ter abaixo do rei.
João Fernandes é escolhido e, quando chega aqui, descobre que Simão Pires tinha sido julgado por desvio eclesiástico, em decorrência de ter 4 mulheres, e sua condenação era vender todos os seus luxos, inclusive suas escravas. Assim, Chica da Silva e seu filho são comprados por João Fernandes, que lhe dá a carta de alforria e, junto com ela, duas opções: casar-se com ele ou ir embora.
Chica decide se tornar esposa do riquíssimo João Fernandes. Além disso, pede a ele para aprender a ler e escrever (proeza que nem as mulheres brancas sabiam naquela época) e para que todos os presentes (imóveis) que ele lhe desse fossem colocados no nome dela. Assim, a ex-escrava foi criando o seu próprio patrimônio e se tornou uma mulher super culta e inteligente, pelo o que é reconhecida hoje.
Em 1746, Chica manda construir uma casa no centro da cidade para pernoitar quando viesse de sua chácara. Esta casa hoje é um museu em homenagem à sua memória, com visita gratuita.
Chica da Silva teve 13 filhos (1 com Simão e 12 com João Fernandes) e morreu aproximadamente aos 64 anos, idade super avançada para os padrões da época.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Se não tem igreja no roteiro não é cidade histórica mineira! 😂 Essa, porém, é ainda mais especial pela história que a envolve. Foi João Fernandes de Oliveira quem mandou a construir e é a igreja mais rica de Diamantina: estima-se que em seu interior há cerca de 150 a 200kg de ouro! 300 escravos trabalharam em sua construção para que, a pedido do contratador de diamantes, a igreja ficasse pronta em 5 anos.
O fato mais curioso, ao meu ver, é que existia uma ordem expressa do Vaticano que dizia que os negros, pardos, mulatos e brancos pobres só podiam entrar em uma igreja até onde estivesse a torre (ou seja, normalmente ficavam do lado de fora, já que em geral as torres são na frente). Para que Chica da Silva pudesse participar das missas, no entanto, João Fernandes mandou que colocassem a torre nos fundos da igreja, tornando-a a única no mundo com essa disposição! A visita custa R$3,00.
Museu do Diamante
Inaugurado em 1954 na antiga casa do inconfidente Pe. Rolim, o Museu do Diamante registra a cultura material gerada pela extração dos diamantes, ao redor da qual a história da cidade se desenrola.
É importante notar que a extração de diamantes era feita principalmente através de mão de obra escrava, e mesmo após a abolição da escravatura, em 1930 estima-se que quem extraía os diamantes ficava com apenas 5% do lucro, com o qual era impossível sustentar uma família. Fica claro, assim, que tal atividade, independentemente do período histórico, é fortemente caracterizada pela exploração imoral da mão de obra trabalhadora.
A entrada no museu é gratuita e é oferecida visita guiada!
ONDE COMER
Conheci um restaurante em Diamantina que, de tanto que gostei, não posso deixar de indicar! Se chama Caipirão e serve buffet de comida caseira, com pratos típicos mineiros — como o arroz com pequi! — e muita coisa boa! Também tem várias opções de saladas e legumes. Pra beber, não deixe de experimentar o suco de cajá-mirim feito na hora, é uma delícia! Pra ficar ainda melhor, o atendimento é maravilhoso e o preço bem acessível. Recomendo!
ONDE FICAR
Na minha diária em Diamantina fiquei hospedada na Pousada do Garimpo e foi impecável! Super charmosinha, confortável e limpa, a pousada fica a cerca de 5 minutos a pé do Mercado Velho (ponto central da cidade) e serve um café da manhã cheio de coisas deliciosas!
Enfim, posso dizer que Diamantina me acrescentou muito culturalmente e me encantou com seu charme, alegria e simplicidade. Foi a minha cidade preferida da viagem a Minas Gerais e, apesar de ficar mais distante de Belo Horizonte do que as outras cidades históricas, vale muito a pena o esforço de ir até lá! Se tiver a oportundidade, não hesite em incluir no roteiro!
Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais. Se quiser mais dicas, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem a Minas Gerais e muitas outras!