MINA DE SANTA RITA: uma visita à escravidão mineradora no Brasil
A cidade mineira de Ouro Preto, em seu subterrâneo, esconde diversas galerias abertas por escravos que, na época do ciclo do ouro, tinham conhecimento da prática necessária para isso. Em dezembro de 2018, na minha viagem pelas cidades históricas do estado, tive a oportunidade de conhecer uma dessas galerias, chamada Mina de Santa Rita. Este post é feito com o objetivo de partilhar algumas coisas que aprendi por lá.
Imagine entrar em um lugar escuro, apertado, úmido, barulhento e aglomerado, cuja única abertura é a entrada/saída. Assim é o interior de uma mina que, na época do ciclo do ouro, era usufruída para a extração do mineral dourado e tão cobiçado.
A mão de obra utilizada era, seguindo o padrão da época, escrava, e, para se acostumarem com o ambiente de terríveis condições, os escravos ficavam presos dentro da mina durante 40 dias, sem ver a luz solar ou respirar ao ar livre em nenhum momento sequer. Se ousassem fugir, eram castigados com chibatadas na sequência.
No ambiente da mina de ouro, apesar de totalmente insalubre, era onde os escravos passavam cerca de 12 a 14 horas por dia. O barulho de batidas era incessante, e deste movimento saía enxofre, pedaços de rocha e outros resíduos que deixavam muitos escravos cegos e/ou sofrendo de doenças pulmonares. Por causa do barulho, muitos ficaram surdos. Por causa do formato da mina e do pequeno espaço em que eram obrigados a trabalhar, muitos também foram vítimas de doenças de coluna. Não suficiente, devido à umidade e pouca circulação de ar, muitos foram os escravos que sofreram de doenças de pele, tuberculose, pneumonia e tantas outras causadas pelas terríveis condições do ambiente a que eram submetidos.
A principal causa de morte dos escravos dentro da mina era, consequentemente, por doenças respiratórias. Com a grande quantidade de mortos, vítimas do trabalho escravo nesse lugar, passou-se a dizer que se estava trocando ouro por vida.
Deve-se ressaltar que a mão de obra das minas era formada por homens de estatura baixa e crianças. Os escravos mais altos eram cruelmente castrados, por volta dos 12 anos, para que não pudessem reproduzir indivíduos altos e que, por isso, não seriam adequados para o trabalho nas minas.
As crianças, por sua vez, eram utilizadas para trasportar o ouro nas passagens menores e mais apertadas das minas e, por causa das péssimas condições, as crianças submetidas a esses trabalhos viviam no máximo até os 16 anos. Aqui, cabe uma reflexão: de que adiantava a existência da Lei do Ventre Livre, que libertava filhos de escravos aos 21 anos, se eram muito poucos na região os que viviam até essa idade? No final das contas, era apenas mais uma “lei pra inglês ver”.
Já as mulheres eram proibidas de entrar nas minas. Por isso, as escravas ficavam do lado de fora com a função de limpar o ouro até virar pó. Assim, conta-se que eram elas quem conseguiam roubar o ouro, utilizado em seguida na compra de alforrias ou na decoração de igrejas em que só entravam negros e pobres. Diz a lenda que elas faziam isso através do famoso ato de “rodar a bateia”, sendo bateia uma espécia de bandeja utilizada para a limpeza do ouro. Ao mesmo tempo que a rodavam, as escravas com quadris mais avantajados também rebolavam e, assim, conseguiam distrair os capangas que estavam ali para fiscalizá-las. Com os olhares desses homens distraídos, elas aproveitavam o momento para roubar um pouco do ouro e esconder em seus cabelos crespos.
Depois de 1888, com a escravidão abolida, praticamente todas as minas foram desativadas, incluindo a Santa Rita, já que não havia mais mão de obra que se sujeitasse a este tipo de trabalho.
Enfim, a visita a este lugar nos faz viajar no tempo para lembrar e aprender diversas coisas. Uma delas é ver de perto o horrível sofrimento do trabalho escravo nas minas, além de lembrar a quão crueis condições um ser humano é capaz de submeter o outro por lucro. É, portanto, um incentivo a nos atentarmos à existência de trabalho escravo e sofrimento humano ainda em nossos dias, e nos posicionarmos fortemente contrários a isso.
Vale registrar, por último, que todas as informações deste post eu aprendi na visita à Mina de Santa Rita com o guia Jefferson, que faz um trabalho incrível contando histórias tristes de forma leve, com paixão e muitas vezes até com humor, sem jamais ridicularizar o sofrimento do local. Com certeza, ele é que fez toda a diferença para que a visita fosse uma experiência única. A visita guiada custa 20 reais e não é recomendada para quem tem claustrofobia ou dificuldades para respirar.
Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais! Se quiser mais dicas, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem a Minas Gerais e muitas outras!