MUSEU DO LEVANTE DE VARSÓVIA- Varsóvia, Polônia

Ou: o melhor museu que eu já conheci!

Luíza Cipriani
6 min readFeb 18, 2024

A minha última viagem internacional foi para a Polônia, país europeu com história riquíssima! Lá, como de costume, visitei vários museus super interessantes, mas teve um em específico que se destacou: o Museu do Levante de Varsóvia, em homenagem ao movimento de resistência que até hoje é lembrado e muito honrado pela capital polonesa.

Nesse post, registrei um pouco do que vi e aprendi na visita a esse museu, mas também na oportunidade de estar em Varsóvia no dia 1º de agosto.

Torre do prédio que abriga o Museu do Levante de Varsóvia, com o símbolo da resistência.

Breve história do levante

Em 1939, a Alemanha nazista invadiu a Polônia, desencadeando a Segunda Guerra Mundial. Varsóvia, a capital polonesa e a maior cidade do país, foi ocupada pelos nazistas.

Durante a ocupação, os poloneses enfrentaram perseguições, deportações, torturas e execuções em massa. Os judeus sofreram violências das mais diversas formas e foram confinados no que se tornou o mais numeroso de todos os guetos. Milhares de pessoas eram assassinadas todos os meses em Varsóvia e a sensação de insegurança pairava em cada ato da vida cotidiana.

Isso tudo fez com que Varsóvia fosse se tornando o centro de um movimento secreto pela libertação contra os nazistas. Desde 1940, uma espécie de Estado clandestino começou a surgir, a partir da união entre os vários partidos políticos remanescentes da Polônia independente, que então tinham sido proibidos de atuar.

Depois de 5 anos desse terror, em 1º de agosto de 1944 teve início o Levante de Varsóvia, uma revolta armada promovida pelo Exército nacional polonês e apoiada por grupos civis contra a ocupação nazista na cidade.

Os soldados da resistência recebiam amplo apoio da população, que desejava mais do que tudo voltar para a Polônia livre, anterior à ocupação nazista. Por isso, muitos civis se juntavam voluntariamente ao exército, e outros (principalmente as mulheres) ajudavam os combatentes através da confecção de comida, roupas e até mesmo armas.

Coleção de braçadeiras originais dos soldados da resistência.

Nesse dia, Varsóvia se sentiu livre: a cidade ficou decorada por todo lado com a bandeira nacional, a imprensa saiu da clandestinidade, músicas nacionalistas tocavam alto (como a que toca no elevador do museu, tida como música-símbolo do levante), a administração pública voltou ao normal e a capital voltou a ter um presidente — nesse pedacinho da Polônia, o clima era de felicidade.

Mas a alegria durou pouco. Apesar de serem 45 mil soldados poloneses contra 25 mil alemães, o exército nazista tinha um melhor treinamento, mais armas e suprimentos. Nos primeiros dias, os insurgentes até conseguiram dominar partes significativas da cidade, mas a resposta alemã foi brutal. Hitler ordenou a supressão total do levante, resultando em confrontos intensos com ataques aéreos, mísseis e até lança chamas, inclusive contra civis.

No museu, estão expostas diversas fotos sensíveis e extremamente chocantes dos resultados dessa desproporcional violência. Nas ruas de Varsóvia, até hoje algumas das placas originais que as denominam preservam os furos de balas, como testemunhas das batalhas ali entravadas.

Para se ter uma noção, só em 48 horas (de 5 a 7 de agosto de 1944), 40 mil poloneses foram mortos, tamanha era a desproporção de forças. Ainda assim, os insurgentes resistiram com muita bravura por mais de dois meses no total, mesmo com falta de armas, munições e suprimentos, e sem nenhuma ajuda internacional. Em homenagem a essa heróica resistência, no museu há uma coluna, que permeia todos os andares do prédio, na qual estão registrados cada um dos dias do levante.

Em 5 de outubro de 1944, com a falta de ajuda externa significativa e as forças nazistas esmagando a resistência, os insurgentes foram forçados a se render e em seguida levados para campos de concentração.

Além disso, a cidade ficou completamente destruída, como mostra uma parte do museu que com um cinema que mostra uma simulação da vista aérea de Varsóvia, feita a partir de fotos da época, após o fim do levante. É chocante!

Do lado de fora do museu, um muro enorme registra em letras miúdas o nome de mais de 200 mil poloneses, entre civis e soldados, mortos pelos nazistas durante o levante.

Uma parte do muro que homenageia as milhares de vítimas do Levante, na parte externa do museu.

O museu é brilhante em cumprir o seu papel de ensinar essa história de tão brava resistência e de tantas perdas. Mais do que isso, é um museu que se utiliza de tecnologia super moderna e de uma exposição interativa para alcançar uma didática riquíssima, envolvente e imersiva, motivos pelos quais considero uma visita absolutamente indispensável pra quem visita a Polônia e se interessa em aprender mais sobre esse movimento tão marcante para o país.

Uma das telas de cinema que compõem a exposição do museu.

A memória do levante

Em homenagem a esse período de grandes perdas, mas também de muita bravura e resistência em busca de liberdade contra a ocupação nazista, o levante é lembrado todos os anos na data e horário que se iniciou em 1944: sempre no dia 1º de agosto, exatamente às 17h, todas as sirenes de Varsóvia tocam por 1 minuto enquanto todo mundo para tudo que está fazendo e fica em silêncio.

Homenagens no dia 1º de agosto em Varsóvia, em memória do Levante ocorrido em 1944.

Nesse dia também é comum ver pessoas vestidas de soldados na cidade e o símbolo do exército insurgente, com uma âncora simbolizando a resiliência frente às adversidades, pode ser visto em todos os lugares.

É uma demonstração de valorização e respeito à própria história impossível de não emocionar quem testemunha. Se você tiver a oportunidade de visitar Varsóvia no dia 1º de agosto de algum ano, não perca a chance!

O símbolo do levante

O símbolo do Levante de Varsóvia é chamado Kotwica, e consiste em uma composição gráfica que combina uma âncora com as letras P e W.

Kotwica, o símbolo da resistência polonesa frente ao regime nazista.

As letras são as iniciais de “Polska Walcząca”, que significa “Polônia Combatente” no idioma nacional. A âncora, por sua vez, simboliza os sentimentos de esperança, resistência e determinação em manter-se firme contra as adversidades.

Esse símbolo se tornou muito significativo para a história polonesa por representar a coragem e a resistência do povo polonês em sua luta pela liberdade, contra o domínio do regime nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Até hoje, o Kotwica continua a ser uma lembrança importante do espírito de resistência em Varsóvia e em toda a Polônia.

O Katowica pelas ruas de Varsóvia em um dia 1º de agosto.

Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais. Não esquece de compartilhar esse post com quem vai visitar esse museu com você e, se quiser saber mais, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem à Polônia e muitas outras!

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Luíza Cipriani

Viagens, livros e outras coisas mais. // 24, Florianópolis