MUSEU FÁBRICA DE OSKAR SCHINDLER— Cracóvia, Polônia.

Luíza Cipriani
5 min readFeb 15, 2024

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Você já assistiu o filme “A lista de Schindler”? Esse longa metragem já ganhou SETE Oscars e é baseado na história real de Oskar Schindler, o dono de uma fábrica de panelas que ajudou a salvar a vida de mais de 1000 judeus durante a perseguição nazista.

Janelas do museu, com fotos de alguns dos judeus salvos por Oskar Schindler. Fonte.

Essa fábrica fica em Cracóvia, na Polônia, e hoje é um museu sobre a Segunda Guerra Mundial — aliás, um dos melhores museus que eu já fui, e não por acaso um dos mais visitados do país.

Entrada da antiga fábrica, hoje transformada em museu. Fonte.

A exposição começa em uma sala que mostra a vida antes da guerra, com os judeus ainda ocupando espaços públicos.

Fotos de quando a vida ainda era normal para os judeus de Cracóvia — ocupando praças, festas, locais públicos no geral.

A sala seguinte tem uma estética mais escura, para ilustrar o início da guerra em 1939, quando os judeus foram banidos dos lugares comunitários, proibidos de andarem de transporte público e de acessarem suas contas bancárias.

Na próxima sala, a exposição se dedica a explicar sobre a invasão da Polônia, que foi atacada ao mesmo tempo pela Alemanha, ao oeste, e pela União Soviética, ao leste, traindo o pacto de não agressão existente entre os dois países. Assim, em setembro de 1939 o exército alemão invadiu Cracóvia e enviou alguns de seus agentes, entre eles Oskar Schindler, então membro do partido nazista. Poucos dias depois, o governo polonês foi deposto e a ocupação nazista teve seu início oficial.

A partir disso, várias restrições foram impostas à população: toque de recolher, acesso escasso a bens básicos, proibição de ouvir rádio, liquidação da imprensa local, etc. Quem não cumpria as restrições era punido com pena de morte, e assim começaram as execuções em massa: todos os dias, listas enormes eram divulgadas com os nomes das pessoas executadas nas últimas 24h, e enforcamentos coletivos em praça pública passaram a ser parte do cotidiano dessa população, como demonstram várias fotos chocantes expostas nessa sala.

À esquerda, diversos cartazes comunicando sobre as novas restrições à população. À direita, uma lista com o nome das pessoas executadas nas últimas 24 horas por não terem cumprido alguma das restrições. Listas como essa, decorrente de execuções em massa, passaram a ser publicadas diariamente.

Nessa mesma época, os monumentos nacionais poloneses começaram a ser destruídos e os nomes das praças e ruas começaram a ser substituídos pelos de personalidades nazistas. A sala do museu que explica sobre isso tem suásticas no piso, para que pisemos no símbolo nazista em referência à oposição dos poloneses daquela época ao regime. Nessa famosa escada da fábrica, que aparece várias vezes no filme, algumas placas com os nomes originais das ruas e praças foram conservadas.

Uma das salas do museu, com o chão de suástica para que pisemos no símbolo nazista. Fonte.

Também foi nesse período que as ordens aos judeus foram ficando cada vez mais restritivas, com o objetivo de excluí-los, explorá-los economicamente e diminuir gradualmente a sua influência social. Em 1940, 55 mil judeus foram expulsos de Cracóvia, entre um total de 70 mil.

Na sequência, todos os apartamentos e estabelecimentos judeus foram transferidos para os nazistas — inclusive a fábrica de panelas onde fica o museu, que antes era propriedade de 3 judeus e então passou a ser do Schindler.

Acervo de panelas produzidas pela fábrica de Oskar Schindler. Fonte

Junto a isso, a comida passou a ser racionada por cupons, que davam direito a quantidades insuficientes para uma pessoa se manter saudável. Esse foi o principal motivo pelo qual a mortalidade infantil e doenças como tuberculose, anemia e raquitismo tiveram um aumento alarmante — a desculpa que os nazistas precisavam para criar os guetos, a partir das propagandas que retratavam os judeus como portadores de doenças e que, portanto, deveriam ser isolados do resto da população.

A sala que ilustra esse momento é escura e tem o teto baixo, para retratar a sensação sufocante de viver dentro de um gueto, já que o espaço originalmente ocupado por 3 mil pessoas agora tinha que comportar 17 mil. Calculava-se que cada judeu tinha direito a 2 metros quadrados. As famílias judias tinham que dividir apartamento com estranhos e os demais poloneses foram proibidos de cruzar a ponte que levava ao gueto ou de ajudar os judeus de qualquer forma.

Os guetos viraram verdadeiros campos de trabalho escravo em favor dos nazistas. Não por acaso, foi no dia do Pessach, um feriado judaico que marca o êxodo dos judeus da escravidão no Egito, que os alemães construíram muros em forma de túmulos ao redor do gueto, para dar a ideia de que a morte os cercava. O terror estava em cada detalhe.

Trecho da sala do museu que representa a vida no gueto de Cracóvia, com teto baixo, pouca iluminação e muros em forma de túmulos. Fonte.

Em março de 1943, o gueto de Cracóvia foi liquidado com o envio em massa dos seus habitantes para campos de concentração ou pelo assassinato ali mesmo. Foi nesse momento que Schindler subornou um dos comandantes nazistas para que os cerca de mil trabalhadores da sua fábrica fossem salvos. Dos 70 mil judeus que viviam em Cracóvia antes da guerra, só 6 mil sobreviveram.

À esquerda, um ambiente do museu com o nome das pessoas salvas por Schindler. À direita, a foto de um dos campos de concentração para os quais os judeus eram enviados.

O museu termina com uma sala de chão mole, para simbolizar a incerteza que pairava acerca do rumos que a Polônia tomaria com o novo governo após o fim da guerra.

O ingresso com a visita guiada (que foi ótima!) para o museu custou 62zł e eu considero um local absolutamente indispensável pra quem for a Cracóvia! É um museu super interativo, didático e com muitas informações interessantes. Se for por conta própria, separe pelo menos umas 2 horas para a visita, pois o museu é bem grande!

Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais. Não esquece de compartilhar esse post com quem vai visitar esse museu com você e, se quiser saber mais, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem à Polônia e muitas outras!

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Luíza Cipriani

Viagens, livros e outras coisas mais. // 24, Florianópolis