PALÁCIO PIRATINI — registro da história política do Rio Grande do Sul
Desde que me entendo por gente lembro de ter bastante interesse na política e na história brasileira, e especialmente em como essas duas coisas se entrelaçam. Justamente por isso, visitar o Palácio Piratini era um desejo que eu tinha já há tempos, até que finalmente tive essa oportunidade e fiz uma visita guiada por lá, com a qual aprendi muitas coisas que hoje compartilho e registro neste post.
Atualmente, o Palácio Piratini é sede do poder executivo estadual, mas nem sempre foi assim. Desde 1789, o local de trabalho do governador rio-grandense era o Palácio de Barro, também localizado em Porto Alegre. No entanto, isso mudou quando Julio de Castilhos, então governador do estado, em 1896 decide ordena a derrubada do Palácio de Barro por não achá-lo adequado ao seu fim. Castilhos, porém, não construiu nenhum outro prédio para substituir aquele demolido.
A empreitada de construir um novo prédio só foi assumida em 1909, por Carlos Barbosa, o governador da época. Para isso, ele promoveu um concurso entre diversos arquitetos, que acabou sendo ignorado quando Barbosa conheceu o arquiteto francês Maurice Gras e se encantou por seu trabalho. Ordenou, assim, que este último fizesse o projeto de um novo prédio para sediar o Poder Executivo, no estilo neoclássico francês.
A construção se inicia no mesmo ano, mas o térreo fica pronto apenas em 1921. Isso porque a maior parte do material para compor o novo palácio foi importado da França, a fim de se manter fiel ao estilo arquitetônico encomendado. Logo em seguida, o então governador, Borges de Medeiros, e seu vice, Pinheiro Machado, instalam a sede administrativa do Estado no Palácio.
A ala residencial, por sua vez, só veio a ser inaugurada em 1928, quando Getúlio Vargas passa a residir no Palácio com a sua família. Vale notar que, até hoje, todos os governadores do Rio Grande do Sul têm a opção de residirem no local que é sede de seu trabalho, mas nem todos a acatam.
Já na década de 50, o pintor italiano Aldo Locatelli foi contratado para pintar os 23 afrescos dos salões do Palácio, trabalho que levou 4 anos para ser concluído. Entre os 23, 18 murais compõem um conjunto de painéis retrata a história do “Negrinho do Pastoreio”, imagem folclórica sul-brasileira a qual se baseia em um menino que trabalhava em uma estanceira de cavalos de um dono muito cruel. A história retratada no site do Palácio conta que em
um determinado dia o fazendeiro ordenou ao Negrinho que cuidasse de alguns cavalos, porém um deles fugiu. Quando retornou, o senhor sentiu falta do cavalo baio e mandou o Negrinho procurar o animal. Ele chegou a encontrá-lo, mas não conseguiu capturá-lo. Dessa maneira, o senhor resolveu castigar o escravo com muitas chibatadas e lançá-lo num formigueiro. O fazendeiro resolveu deixar o Negrinho lá, certo de que já estava morto. Mas, no dia seguinte, ficou perplexo ao deparar com o Negrinho ileso, montado no cavalo perdido, e ao seu lado estava a Virgem Maria, padroeira do pequeno escravo. Arrependido, o fazendeiro pediu perdão, mas o Negrinho saiu galopando feliz e livre no cavalo baio.
Negrinho do Pastoreio é considerado santo das causas perdidas. Por isso, conforme a tradição popular, quem perde algo e tem dificuldade de encontrar acende uma vela e pede ajuda ao Negrinho para encontrar o que perdeu.
Além desses painéis, o que mais me chamou a atenção foi o mural entitulado “A formação do Rio Grande do Sul”, também feito pelo mesmo artista. Isso porque, quando foi contratado, Locatelli ficou incumbido de produzir, para o palácio, obras que representassem a história e a identidade cultural do estado. Assim, o referido mural representa a formação etnográfica do gaúcho, composta, no painel, por:
- um português, com o Forte Jesus Maria José atrás;
- indígenas, retratados nas ruínas de São Miguel das Missões;
- bandeirantes;
- imigrantes (agricultores);
- família gaúcha;
- um gaúcho do campo, montando a cavalo;
- e um gaúcho que lutou na Revolução Farroupilha, identificado pelo uso de um lenço azul.
Uma observação interessante é que, Ernesto Ornellis, o governador que encomendou o quadro (pintado entre 1951 e 1953), queria que neste contivesse um registro de seu governo. Assim, Locatelli, contra sua vontade, pintou uma torre de energia elétrica no meio do quadro, uma vez que o principal projeto de Ornellis era difundir a energia elétrica por todo o estado.
Outra curiosidade é que, até 1955, o Palácio se chamava “Palácio do Governo”. Foi só em 1955 que seu nome foi alterado para Piratini, em homenagem à primeira capital da República Rio-Grandense, durante o período da Revolução Farroupilha.
Além disso, o Palácio Piratini marcou a história brasileira por ter sido utilizado como sede da campanha da Legalidade, liderada pelo então governador Leonel Brizola em 1961. O objetivo do movimento era evitar a tomada de poder de forma antidemocrática, através da preservação da Constituição Federal.
Esse foi sem dúvidas um dos episódios mais importantes do país e, por esse motivo, atualmente funciona no subsolo do Palácio o Memorial da Legalidade, que infelizmente estava fechado quando eu fui, mas tem como objetivo registrar e difundir as informações sobre aquele momento tão célebre ocorrido no Palácio.
A visita guiada no Palácio Piratini é gratuita e acontece de hora em hora.
Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais. Se quiser saber mais, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem a Porto Alegre e muitas outras!