SÃO JOÃO DEL-REI E TIRADENTES — MG: um pouco de história

Luíza Cipriani
5 min readJan 26, 2019

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No final do último dezembro estive em Minas Gerais e percorri as principais cidades históricas. Entre elas, conheci São João del-Rei e Tiradentes, duas cidades que, além de super charmosas, foram muito importantes pra história do estado e do Brasil. Por isso, resolvi fazer este post para compartilhar com vocês um pouco do que vi e aprendi por lá!

ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE SÃO JOÃO DEL-REI

  • Atualmente São João del-Rei tem aproximadamente 120 mil habitantes e tem como principais atividades a agricultura, agropecuária e a fabricação de peças de estanho, que é considerado o 4º mais precioso dos metais (depois do ouro, prata e bronze). Por várias questões, hoje em dia é praticamente a única cidade no mundo que ainda produz peças desse material!
  • São João é palco da literatura árcade brasileira, que ganhou força na época do ciclo do ouro em Minas Gerais. Foi ali, inclusive, que nasceu José de Alvarenga Peixoto, inconfidente e um dos principais poetas do período. A cidade é, por tudo isso, considerada uma cidade literária!
Pelas ruas de São João del-Rei, com casinhas tortas e coloniais. O calçamento é do tipo conhecido como “solteironas”, porque as lajotas não são encaixadinhas umas nas outras.
  • Foi em São João del-Rei que o conflito que ficou conhecido como Guerra dos Emboabas teve maior repercussão. Surgido pela disputa pelo “direito” de explorar as minas recém descobertas, foi o conflito mais sangrento ocorrido na história do estado. Por causa disso, diz-se que o rio que corta a cidade costumava ficar avermelhado, passando a ser conhecido por Rio das Mortes.
  • Sobre o Rio das Mortes passa a chamada Ponte do Comércio, que recebeu esse nome porque era ali que ficavam os escravos para serem analisados e vendidos quando as pessoas atravessavam a ponte para ir ao comércio, do outro lado do rio. Os compradores costumavam escolher principalmente os escravos mais baixinhos, que por isso teriam melhor desenvoltura para trabalhar dentro das minas.
Cruz sobre a Ponte do Comércio, que marca o local em que os escravos eram comercializados. Lá embaixo, o Rio das Mortes.
  • São João, assim como outras cidades do roteiro histórico de Minas, é profundamente marcada pela Inconfidência Mineira, ocorrida em 1789. O plano dos inconfidentes — se não tivessem sido traídos por Joaquim Silvério dos Reis e, assim, sido descobertos — era que a primeira medida a ser tomada após o movimento fosse levar a capital de Minas Gerais para São João del-Rei, por ser mais próximo de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Pelas ruas de São João del-Rei (assim como de outras cidades históricas), repare nas calçadas que tem dois níveis. Na época, eram feitas assim para que as sinhás passeassem ao sol com suas escravas, mas sem que jamais ambas estivessem no mesmo nível: no debaixo andavam as escravas e nos de cima, suas donas.
  • Também foi em São João del-Rei que nasceu e encontra-se enterrado Tancredo Neves. Bem ao lado da Ponte do Comércio, hoje em dia funciona um museu em sua homenagem (o qual eu não pude visitar, mas fica a dica pra quem tiver a oportunidade!). Conta-se, inclusive, que Tancredo faleceu cerca de 3 dias antes da data que passou para a história como a de sua morte (21 de abril de 1985), mas escolheu-se oficializar seu óbito no dia de Tiradentes para relacioná-lo com a imagem de seu conterrâneo e, assim, contribuir para a construção da ideia de um heroi nacional.

O TIRADENTES

Em uma localidade chamada Fazenda do Pombal, que antigamente pertencia ao interior de São João del-Rei, em 1746 nasceu Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes. Órfão, morou na cidade até os seus 17 anos, quando se mudou para Villa Rica (antigo nome de Ouro Preto) em busca de melhores condições de vida.

Aprendeu com um padre a prática de tirar dentes, não se chamando dentista por não ter passado por nenhuma escola ou faculdade. Também entendia muito de ervas medicinais e curou muita gente. Com isso, ganhou muita popularidade, principalmente entre quem sofria de doenças decorrentes do trabalho nas minas. Fazendo atendimentos de porta em porta, se tornou o maior propagandista da inconfidência e passou a ter contato com a elite, que fazia parte da maçonaria e encabeçou o movimento.

Os planos dos inconfidentes foram destruídos após a descoberta e consequente captura dos líderes do movimento, devido à traição de Joaquim Silvério dos Reis. Com isso, Tiradentes ficou preso por 2 anos no Rio de Janeiro e no dia 21 de abril de 1792 morreu enforcado. Em seguida, foi esquartejado e, por ordem da rainha portuguesa (Maria I, a louca), deixaram uma parte de seu corpo em cada uma das cidades mais populosas em que houve conspiração. Sua cabeça foi deixada em Villa Rica (atual Ouro Preto), que, na época, além de ser a capital de Minas Gerais era mais até mais populosa que o Rio de Janeiro!

Depois desse episódio, fez-se de tudo para que a memória de Tiradentes fosse apagada — sua casa, inclusive, foi queimada — , e por muitos anos seu nome foi esquecido pela história. Somente após a proclamação da república, quando os republicanos precisavam de um heroi para representar a nova fase do Brasil, é que recuperou-se a imagem de Tiradentes e relacionou-a com a ideia de “heroi da pátria”. Aproveitando o forte catolicismo do país para isso, sua figura passou a ser representada semelhante à de Jesus.

A CIDADE DE TIRADENTES

A região em que se encontrava a Fazenda do Pombal, que antigamente pertencia à São João del-Rei e onde nasceu Tiradentes, hoje virou um município com seu nome para homenagear o inconfidente.

Estátua em homenagem a Tiradentes na cidade que hoje leva seu nome. Originalmente, a imagem segurava uma espada, que infelizmente foi furtada.

É uma cidade bem pequena — tem pouco mais de 5 mil habitantes — mas é super charmosa! Já foi inclusive muito utilizada como cidade cenográfica para diversas novelas e mini-séries de época.

Pelas ruas charmosinhas e cinematográficas de Tiradentes…repare que não há fiação elétrica exposta. É tudo subterrâneo, com o objetivo de preservar a estética colonial da cidade! São João del-Rei também é assim (repare na primeira foto do post)

Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais! Se quiser mais dicas, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem a Minas Gerais e muitas outras!

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Written by Luíza Cipriani

Viagens, livros e outras coisas mais. // 24, Florianópolis

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