VISITA AO PALÁCIO OLÍMPIO CAMPOS — registro da história política sergipana
Engana-se quem pensa que o Sergipe se resume a praias e outras belezas naturais. De fato, oferece isso, mas muito mais, incluindo lugares culturais e históricos interessantíssimos! Exemplo disso é o Museu Palácio Olímpio Campos, construção localizada no centro de Aracaju que tive o prazer de conhecer, aprender muito e hoje venho aqui compartilhar sobre com vocês!
Pronto em 1863, o palácio serviu como sede do governo estadual, tanto na parte administrativa (no térreo), como também para residência dos governadores, no pavimento superior.
A visita guiada e gratuita (assim como a entrada) se inicia no hall, o único lugar em que é permitido tirar fotos. Neste cômodo se encontram dois quadros que retratam as principais economias do estado do Sergipe: a monocultua da cana e criação de gado (mais primitivas), e a produção de sal e o cultivo de côco (mais recentes). Ambas as telas são de autoria do artista sergipano Jordão de Oliveira.
Período Provinciano
Em seguida, a visita adentra o chamado Espaço Província, que registra um recorte do período imperial sergipano. Aqui, vale registrar que o império começa oficialmente em 1822, com a independência do Brasil de Portugal, mas no Sergipe começa um pouquinho antes, com a emancipação da Bahia, por um decreto de Dom João VI, em 8 de julho de 1820. Com isso, ele mesmo também estebelece que o primeiro presidente da província (cargo que hoje temos como governador) seria Carlos César Burlamaqui. Este, porém, governa por apenas 26 dias, quando é detido pelos bahianos que, por perderem terras, poder e hegemonia, não concordaram com a independência do Sergipe.
Entre os 75 presidentes de província que Sergipe teve no período imperial, destacam-se os nomes de Inácio Joaquim Barbosa e João Gomes de Melo, este último possuidor do título de Barão de Imaruim. O primeiro marcou a história por ser o responsável pela transferência da capital do Sergipe, enquanto o segundo o ajuda neste empreitada. A capital do estado, até 1855, era São Cristóvão. Porém, por motivos econômicos, precisava-se de um local onde se pudesse construir um porto — que, curiosamente, nunca foi construído — para escoamento da produção, e decidiram que Aracaju seria um local adequado para isso e, desde então, passou a ser capital.
Devido a esse contexto, Aracaju começou do zero, com direito a planejamento urbano em formato de tabuleiro de xadrez. No projeto, já previa-se a construção do Palácio Olímpio Campos com o objetivo de ser a sede do governo na nova capital, sendo contratado até um grupo de artistas chamado de “missão italiana” para decorar o palácio de forma suntuosa. A construção, no entanto, ficou quase 100 anos sem nome, sendo chamado apenas de “Palácio do Governo”, tal qual ainda se encontra escrito na fachada. Apenas depois de muito tempo é que recebeu o nome que tem hoje.
Quem foi Olímpio Campos?
Olímpio Campos foi presidente de estado (“governador”), senador e padre. Pertencia a uma grande richa política do estado entre dois grupos: Fausto Cardoso x Olímpio Campos. Dizem que o governador que escolheu o nome do palácio assim o fez por ser simpatizante do grupo político de Olímpio.
O grupo político a que Campos pertencia era conhecido como cabaús, entendido como o caldo grosso da cana de açúcar. Isso porque seu grupo era ligado aos senhores de engenho, as pessoas mais ricas da região. Fausto Cardoso, por outro lado, pertencia a um grupo político conhecido como pebas, que até hoje se entende como uma denominação pejorativa. Este, por sua vez, era ligado às pessoas mais pobres da região, portanto rivalizando com o de Olímpio.
Os cabaús tinham uma maior hegemonia no poder: Olímpio já tinha sido presidente de estado, assim como seu irmão. Por isso, o grupo de Fausto tenta uma espécie de acordo para que também pudesse participar da administração do estado. No dia em que Fausto foi ao palácio com esse objetivo, tanto a praça quanto a entrada do palácio se encontravam tomadas por tropas, mas mesmo assim decide entrar dizendo: “O palácio é dos sergipanos, siga-me quem quiser morrer comigo!”. Nessa confusão, Fausto acaba sendo atingido por um tiro. É levado para fora do palácio ainda vivo, pede um copo d’água e, ao beber, diz a frase que marcou a política do estado: “Bebo a alma do Sergipe”, e morre.
Meses depois, dois filhos e um sobrinho do Fausto Cardoso vão até o Rio de Janeiro e matam Olímpio Campos a tiros e facadas, como forma de vingança pela morte do Fausto.
Período Republicano
Continuando a visita, chegamos na Galeria dos Governadores, que registra um recorte do período republicano. Nesse contexto, merecem destaque os nomes de Felisbelo Freire (o primeiro presidente de Estado do Sergipe), Olímpio de Souza Campos (que dá nome ao palácio, como dito acima), Guilherme de Souza Campos (irmão de Olímpio), José Joaquim Pereira Lobo (responsável pela missão italiana), Luíz Garcia (em cujo governo executou obras importantes para o Estado, inclusive a Universidade Federal do Sergipe), João Alves Filho (único a ter 3 mandatos) e Seixas Dória.
Este último foi um governador que recebeu voz de prisão no palácio (então sua moradia) na época da ditadura, simplesmente por ter posicionamento político contrário ao regime imposto. Foi levado para a Bahia e posteriormente para Fernando de Noronha, onde ficou preso. Acerca desta experiência, escreveu o livro com título sugestivo: “Eu, réu sem crime”.
O último governador a morar no palácio foi Antônio Carlos Valadares, até 1991. Já o último a trabalhar no local foi Albano Franco, até 2003. Depois disso, o palácio ficou praticamente abandonado até 2007, quando Marcelo Déda, então governador do Sergipe, restaura o palácio e em seguida o reabre na função de museu, com o nome de Museu Palácio Olímpio Campos.
O Museu Palácio Olímpio Campos foi um local que, sem dúvidas, gostei muito de conhecer em Aracaju e recomendo a visita para todo mundo que tiver interesse na história, principalmente política, do estado!
Espero que você tenha gostado do post e, para qualquer dúvida, estou a disposição por aqui ou pelas outras redes sociais. Se quiser saber mais, me acompanhe no instagram (@wheresluiza), onde eu posto várias informações e dicas sobre a minha viagem ao Sergipe e muitas outras!